21.1.07

Mães

Maria Luzia Villela

Coisa boa para comer era rara.

Nica ouvia contar do farturão que a família desfrutava no tempo em que viviam na roça. Leite de vaca e cabra à vontade, queijos manteiga, frutas do pomar e do cerrado. Gabirobas. Este nome guardara: um dia comeria essa fruta. Cana caiana...

Havia uma touceira dessa cana plantada no quintal, de vez em quando a mãe descascava uma e cortava em toretes de cinco centímetros e estes em quatro palitos. Eram mastigados até se transformarem em ásperos bagaços, sem sabor. Na trabalhosa mastigação o caldo docinho escapava um pouco pelo canto da boca. Muito bom.

No pequeno quintal da cidade a mãe fazia milagre. Plantava verduras num trecho cercado e milho ao longo das cercas. Assim Nica pôde conhecer o sabor do curau e o do milho verde assado no borralho. Que borralho, ali na casa da cidade, havia: tanto no quintal, na armação de tijolos para ferver roupa, como no fogão à lenha. Outro cercadinho abrigava oito galinhas e um galo. Ovo era a mistura principal e por isso o galo era quase dispensável, pois ovos para chocar... Só de longe em longe. No ninho havia um ovo de madeira, o indez, para estimular as galinhas à botação.

Lá de vez em quando, a mãe ia guardando um ovo por dia até juntar doze e então punha galinha para chocar e uma ninhada de pintinhos vinha a movimentar o quintal. A galinha mãe, ciscando daqui e dali, dava migalhas quase invisíveis aos seus pintinhos; às vezes puxava uma longa minhoca para eles. Tinha que defendê-la contra a gula do galo e das outras galinhas. Assim os pintinhos, como ela, só contavam com a mãe. Galo, pai desnaturado...

Com ela, pior! Pai nem havia em casa....

Mini-conto

Um comentário:

Blog da Joana Paro disse...

Querida amiga... é muito bom ler vc... o coração fica cheio de ternura... Toda a ternura q coloca em cada pedacinho de palavra q representa sua vida. Te amo... Beijo enorme. Joana.